Este blog pode ser considerado um livro online de receitas vegenas, porém, você vai encontrar também discussões sobre questões éticas e outros tipos de interferência do homem em relação aos animais, afinal, veganismo está muito além de uma dieta.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Primata

Para os reacionários um forte argumento contra o veganismo é a velha história de que os nossos ancestrais evoluíram pelo consumo de proteínas animais, ou seja, carne. Uma das teorias diz que o cérebro humano se desenvolveu por conseqüência do bipedalismo (que diminuiu a alta temperatura em que o cérebro era mantido quando éramos quadrúpedes) e da ingestão de alimentos com altos níveis de energia, para fornecer a demanda que o cérebro exigia.
Os caçadores-coletores contemporâneos obtêm de 40% a 60% de sua energia de carne, leite e outros derivados animais. Em contrapartida, chimpanzés modernos obtêm 5% a 7% de suas calorias dessas fontes. Os alimentos de origem animal contêm bem mais energia do que alimentos vegetais, então fazia sentido, para o antigo homo, procurar alimentos mais energéticos para suprir o crescimento do cérebro.
Outra corrente de pensamento, nos trás a teoria de que não foram os nutrientes da carne que ajudaram o nosso cérebro a se desenvolver e sim toda a reorganização que os hominídeos sofreram para poder obte-la, como o uso de ferramentas, organização de caçadas, utilização do fogo para ingestão da carne. A tática por trás de uma emboscada a um animal teria, segundo essa teoria, necessitado de novas habilidades e meios de comunicação o que favoreceu a expansão do cérebro.
Acredito que as duas teorias sejam satisfatórias em muitos pontos e, é claro, vagas em outros. Entretanto, é evidente que para o homem atual o consumo de carne não é indispensável como foi para nossos ancestrais. Hoje obtemos proteínas nos mais variados alimentos vegetais e o consumo de carne não nos obriga a executar táticas e armadilhas, basta ir ao açougue.
 Além disso, a indústria da carne torna tudo pior: não vemos de onde a carne vem, nem os processos pelos quais ela passa até chegar ao nosso prato, tudo que enxergamos é um bonito bife que parece tão isolado e distante de um animal que muitas vezes esquecemos que fez parte de um ser vivo. E queremos esquecer. A indústria da carne faz o animal passar por dor e sofrimento desde o nascimento até o abate, parte essa que nos é escondida e apenas o que vemos é o comercial de uma perfeita família num churrasco de domingo.
Não podemos mais nos enganar, aceitando teorias que nos agradam, que nos mantem isentos da culpa e continuar com nossos hábitos porque são convenientes. É fácil dizer para nós mesmos que não conseguimos parar de consumir carne, assim não nos damos ao trabalho de abrir mão do bife de amanha, todos podem parar de comer carne, basta parar.

Luiza Hirsch

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